segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Dia dos Namorados, Valentine’s Day ou Lupercália?

Por que o Dia dos Namorados é comemorado mundialmente em 14 de fevereiro, no chamado Valentine’s Day? O nome remete a São Valentim e a palavra valentine, em inglês, hoje também é usada como sinônimo de namorado (a). Como foi que São Valentim tornou-se tão emblemático para os apaixonados? E como um festival da Roma Antiga faz parte dessa história?


Você sabe quem é São Valentim?
Entre tantas suposições que justificam a comemoração desse dia, a mais difundida – principalmente do Hemisfério Norte – é a história de São Valentim.

No século V, o imperador Cláudio II proibiu o casamento entre casais como uma forma de fazer com que homens não fossem distraídos e se dedicassem somente ao exército, rendendo mais. No entanto, um bispo romano continuou a celebrar casamentos, mesmo com a proibição do imperador. Seu nome era Valentim e as cerimônias eram realizadas em segredo.

Infelizmente, o padre foi descoberto e sentenciado à morte. Dentro da prisão, Valentim se apaixonou pela filha do carcereiro e quando chegou o dia de ser executado, enviou uma carta assinada com “Seu Valentim”. Isso fez com que a data ficasse marcada pelo envio de bilhetes amorosos.

Ele foi morto em 14 de fevereiro, mas não há um consenso quanto ao ano em que isso aconteceu. Sabe-se que foi no final do século III.

O reconhecimento da figura religiosa como padroeiro dos namorados aconteceu quando o Papa Gelásio, cerca de dois séculos depois, definiu a data como o Dia de São Valentim, um grande símbolo do amor.





Reconstrução facial em 3D feita por Cícero Moraes a partir de fotografias do crânio de Valentin de Terni por José Luís Lira e obras do antropólogo forense Marcos Paulo Salles no Instituto Forense do Rio de Janeiro.







Pintura Lupercália de Andrea Camassei





E a Lupercália?

Sexo, violência e embriaguez: Durante séculos, Lupercalia foi uma grande festa romana, sobrevivendo até a ascensão do cristianismo. E muito em breve, alguém no seu feed do Facebook provavelmente vai alegar que este feriado deu origem ao nosso moderno Dia dos Namorados. Então, qual é a verdadeira história por trás do antigo festival romano e sua relação com os corações?

No antigo calendário romano, mensis Februarius ou Februarius (fevereiro) foi o segundo e mais curto mês, a partir do qual deriva o nome do mês em inglês. Ele foi precedido por Ianuarius (janeiro) e seguido por Martius (Mars mês de março).

Februarius foi o único mês no calendário pré-juliano  a ter um número par de dias (28). Fontes antigas derivaram Februarius  de februum , usada para ritual de purificação. A maioria das observâncias deste mês diz respeito à morte ou fechamento, refletindo a posição original do mês no final do ano. 




O Festival Lupercaliano em Roma (ca. 1578–1610), desenhado pelo círculo de Adam Elsheimer, mostrando os Luperci vestidos como cães e cabras, com Cupido e personificações da fertilidade.







A Lupercalia, Lupercália, Lupercais ou Festas Lupercais, era um festival pastoril romano, celebrado em XV Kalendas Martias, que corresponde hoje ao dia 14 de fevereiro.

O nome da festa supõe-se derivar do antigo festival grego da Lykaia arcádica (do grego antigo: lukos, lobo”, latim lupus ) e a adoração do Pan de Lycaean , supostamente um equivalente grego do deus Fauno, instituído por ‘Evandro o árcade’, mas é possível que existisse desde o período pré-romano.
Realizavam-na na gruta de Lupercal, no monte Palatino (uma das sete colinas de Roma). Teria sido onde, segundo a tradição, Pã – também chamada Fauno Luperco (o que protege do lobo), em cuja honra se fazia a festa – tomou a forma duma loba e amamentou os gémeos Rómulo e Remo.







ROME, ITALY: Estátua de bronze: “Capitoline Wolf” (Lupa Capitolina) dos Museus do Vaticano.
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A festa da Lupercália simbolizava a purificação que devia acontecer em Roma ao fim do ano (que começava em Março). Anualmente, um grupo especial de sacerdotes, os luperci sodales (lupercos sodais) eram eleitos entre os patrícios mais ilustres da cidade.

Na data prevista, então, os lupercos daquele ano encontravam-se na gruta Lupercal para sacrificarem dois bodes e um cão e serem ungidos na testa com o sangue, limpado da lâmina do sacrifício com uma lã embebida em leite. De acordo com o estudioso Keith Hopkins, isso era incomum por si só, porque os porcos, ovelhas e touros eram mais comumente usados como animais de sacrifício. Vestiam-se então do couro dos animais, simbolizando o Fauno Luperco, do qual arrancavam tiras, chamadas februa, com as quais saíam ao redor da colina a chicotear o povo, em especial as mulheres inférteis, que se reuniam para assistir ao festival.

Acreditava-se que essa cerimônia servia para espantar os maus espíritos e para purificar a cidade, assim como para liberar a saúde e a fertilidade às pessoas açoitadas pelos lupercos.

A associação com a fertilidade viria de as chicotadas deixarem a carne em cor púrpura. Essa cor representava as prostitutas sacerdotais da Ara Máxima, também chamadas lobas.

Tratava-se também de um rito de passagem, simbolizando a morte e a ressurreição, celebrando assim a vida.






 O Luperci (irmãos do lobo) realizando rituais no altar.







Segundo alguns relatos, as mulheres se ofereciam para ser chicoteadas porque acreditava-se que ela trazia fertilidade e tornava o processo de parto mais fácil para elas. Mas com o passar dos anos, as coisas mudaram; no século III, a natureza voluntária desse ritual parecia ser menos voluntária. Hopkins afirma que um mosaico com características de comemoração de Lupercalia “Dois homens segurando violentamente uma mulher nua estão virados para cima, enquanto um terceiro homem, meio nu, bate em suas coxas. A hilaridade bêbada dos homens é acompanhada pela dor óbvia da mulher espancada.”







César Recusa o Diadema em 1894 quando foi oferecido por Marco Antônio durante a Lupercalia.








A festa era tão antiga como a própria história de Roma (sabe-se que era uma tradição forte já no tempo de Júlio César), e tornou-se mais popular nos tempos da República romana, quando a gruta Lupercal foi reformada por Augusto, e perdurou até aos tempos do império e da sua queda. Esta mesma celebração foi adotada por Justiniano I no Império do Oriente em 542, como remédio para uma peste que já havia assolado o Egito e Constantinopla e ameaçava o resto do império.

Uma curiosidade: A peça de William Shakespeare, Julius Caesar,  começa durante a Lupercalia , com a tradição descrita acima. Marco Antônio é instruído por César a atacar sua esposa Calpúrnia , na esperança de que ela seja capaz de conceber.

Em 494 d.C., o Papa Gelásio I proibiu e condenou oficialmente essa festa pagã. Numa tentativa de cristianizá-la, substituiu-a pelo 14 de fevereiro, dia dedicado a São Valentim (hoje, conhecido como o dia dos namorados).





Papa Gelásio I






Mas alguns estudiosos discordam. Como observou o escritor britânico Mark Forsyth “É vitalmente importante, quando se escreve sobre tradições, lembrar que existem apenas 365 dias no ano … A sobreposição não é significante”.

Muitos historiadores medievais concordam que não há provas de que o papa Gelásio tenha substituído Lupercalia por qualquer festival (uma afirmação semelhante de que Candelma substituiu Lupercalia também é sem mérito). O estudioso Jack Oruch diz que “em nenhum momento o Gelásio fala de compromisso ou de adaptação de qualquer costume pagão”.

Entretanto o Dia dos Namorados usa alguns dos símbolos de Lupercalia, intencionalmente ou não, como a cor vermelha que representou um sacrifício de sangue durante Lupercalia e a cor branca que significava o leite usado para limpar o sangue e representa nova vida e procriação.

Como muitas tradições antigas, há muita nebulosidade em torno das origens e rituais de Lupercalia e como eles influenciaram o Dia dos Namorados. Lupercalia não é mais uma celebração popular por razões óbvias, mas alguns não-cristãos ainda reconhecem o evento antigo em 14 de fevereiro (em vez do Dia dos Namorados) e celebram em público.

Uma coisa é certa: Se você vai comemorar a Lupercalia (ou São Valentim) em fevereiro, ou o dia dos namorados em junho, é melhor deixar de fora os sacrifícios de bodes, as chicotadas e nada de correr sem roupas pelas ruas.















Fontes: Wikipédia; History; Mental Floss.

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