domingo, 22 de outubro de 2023

SEMENTES DE FELICIDADE

Quantas vezes não acontece ouvirmos as pessoas dizerem: «Ah! Deixem‑me em paz!» E elas imaginam que, pelo facto de as “deixarem em paz”, tudo irá bem e se sentirão felizes... Mas que paz é essa? É assim tão fácil estar em paz e ser feliz? Não, as pessoas não têm uma ideia clara do que é a paz, assim como não têm uma ideia clara do que é a felicidade.

Enquanto o homem estiver submetido à sua natureza inferior, aos seus instintos, às suas cobiças, às suas ambições, não poderá viver em paz. Enquanto existirem elementos de ódio, de ciúme, de cobiça, no seu coração, no seu intelecto ou na sua vontade, ele conhecerá somente conflitos e perturbações. Mesmo quando tem um momento de descanso, porque julgou ter alcançado os seus objetivos, rapidamente os problemas recomeçam e lá se vai a “sua” paz.

A paz também não é conseguir estar tranquilo durante algumas horas ou alguns dias porque se está em condições agradáveis ou sozinho nas montanhas.

A paz, a verdadeira paz, tal como os Iniciados a compreendem, é um estado de consciência superior que implica o conhecimento da estrutura do homem e do Universo. Sim, os Iniciados dir‑vos‑ão isso mesmo: só vos sentireis verdadeiramente em paz no dia em que os elementos dos vossos diferentes corpos (físico, astral, mental, causal, búdico e átmico) estiverem purificados, harmonizados entre si e vibrarem em uníssono com as regiões mais elevadas do universo.

A paz é, pois, um estado de consciência a que cada um chega após um longo trabalho de autodomínio e de harmonização interiores.

Até lá, tereis, sem dúvida, alguns instantes de tranquilidade, de quietude, mas, enquanto não tiverdes realizado esse trabalho, não tereis paz, porque, em cada dia, várias vezes por dia, podem ocorrer muitíssimos incidentes suscetíveis de vos perturbar! Quando tiverdes obtido a verdadeira paz, mesmo que tenhais de enfrentar dificuldades e infelicidades, não vacilareis; é claro que ficareis inquietos ou tristes, mas só à superfície. No mais profundo de vós mesmos, a paz não vos deixará, sentireis que ela está sempre lá, dentro de vós...

Como no fundo do mar: nenhuma tempestade pode perturbá‑lo. Há na verdadeira paz algo de imensamente vasto e inalterável, pois ela é uma aquisição da alma e do espírito.

Por conseguinte, a verdadeira paz situa‑se muito alto: ela é como que um acorde, uma síntese, uma harmonia de todos os elementos em nós. E o mesmo acontece com a felicidade: o que os humanos tomam por felicidade não passa, muitas vezes, de pequenas satisfações de curta duração.

Dizeis que estais felizes por terdes passado umas férias agradáveis das quais regressais repousados e recarregados de energia, pelo facto de um homem ou uma mulher a quem amais também vos ter testemunhado o seu amor, por alguém vos ter felicitado pela vossa inteligência e pela vossa competência... Evidentemente, ninguém pode negar que é importante estar de boa saúde, sentir‑se amado e ser reconhecido pelas suas capacidades, mas isso não basta para alguém poder realmente dizer que é feliz, pois a verdadeira felicidade está para além do corpo físico, do coração e do intelecto. E imaginar também que, se se tiver uma casa ou uma mulher, se será feliz, que, se se tiver a glória, a ciência ou a beleza, se será feliz... não!

Há milhares de anos que a história do mundo nos mostrou que a felicidade não reside nisso ou que uma tal felicidade dura muito pouco. Obtém‑se isto, obtém‑se aquilo, mas permanece‑se insatisfeito e, interiormente, sente‑se um vazio, um vazio medonho, pronto a engolir tudo.

A felicidade é tão difícil de obter e de manter porque é preciso procurá‑la muito alto, numa região onde os materiais são inalteráveis; e isto exige do homem grandes qualidades, sobretudo a pureza, porque só o que é puro é inalterável e tem o poder de durar. Essa região existe no espaço, mas existe também em nós mesmos, e todos aqueles que descobriram isso fazem um esforço para pensar, amar, agir e trabalhar de modo a viverem nessa região que nada pode perturbar. Aconteça o que acontecer, quaisquer que sejam as condições, esses seres são felizes, porque encontraram elementos estáveis, imutáveis, eternos.

A verdadeira felicidade é, pois, um estado que, tal como a paz, se caracteriza pela estabilidade.


Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov

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