quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Fisgamos fantasmas

“Em momentos de angústia e fragilidade, buscamos segurança naquilo que nos é familiar. Como crianças que correm para perto dos pais, desejamos a proteção de algo ou alguém com quem já temos intimidade. Lançamos nossos anzóis nos oceanos da memória, à procura de familiaridade, em projetos ou relações do passado. Com isso, inevitavelmente fisgamos fantasmas, trazendo-os de volta para dentro de nossas vidas.

O desejo de segurança, paradoxalmente, nos faz aceitar um dos maiores riscos: reviver aquilo que tanto nos fez mal. Os exemplos são diversos: projetos profissionais vazios de propósito, relações amorosas carregadas de amargor, amizades tóxicas...

Alimentados pela ternura do autoengano, contrariamos toda e qualquer racionalidade. Contrariamos a voz que, no fundo, nos diz que o único fruto disso tudo será o arrependimento. 'Não... desta vez não será assim!', pensamos... E assim seguimos: convictos de que, desta vez, será diferente.

Em busca de segurança, convidamos para o seio das nossas vidas justamente os fantasmas que só servirão para potencializar angústias e dilacerar feridas.”

Pedro Calabrez

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